segunda-feira, 12 de outubro de 2009

TÉCNICO DE ENFERMAGEM: O QUE ESTÁ ENTRE O SONHO E A REALIDADE?

IRENILDES DOS SANTOS URBANO


RESUMO

Este trabalho é fruto de uma preocupação com a formação e atuação profissional e tem por objetivo levar o leitor a refletir sobre a responsabilidade de ser um profissional da saúde independente da realidade do campo de atuação. Para a realização deste, foram entrevistados alunos de um curso técnico de enfermagem, profissionais da saúde e pessoas comuns que utilizam serviços e atendimentos hospitalares.
Palavras-chave: profissional, saúde.

ABSTRACT

This work is the result of a concern for the education and professional activities and aims to lead the reader to reflect on the responsibility of being a health professional regardless of the reality of the field. To achieve this, we interviewed students from a nursing technician course, health professionals and ordinary people who use services and hospital care.
Keywords: professional, health.

INTRODUÇÃO

Ser um técnico de enfermagem é o sonho de muitas alunas. Todas têm uma motivação para justificar a escolha. A realização trás uma realidade nem sempre compatível com os ideais sonhados. Esses ideais também não são compatíveis com o que preconiza a escola de enfermagem. Destaco neste trabalho o grupo que sonha com o sucesso profissional tirando o seu foco do ser humano frágil e doente.

1. DO CUIDADO INTUITIVO À ENFERMAGEM ORGANIZADA

Desde que existe o homem, as doenças sempre existiram e as pessoas de alguma forma cuidavam das outras que necessitavam de assistência. O cuidado ao longo dos anos foi desenvolvido por diversas pessoas, levando-se em conta o sentimento de humanidade pelos semelhantes. Quando surge o cristianismo o cuidado passou a ficar por conta de pessoas pertencentes a esse movimento religiosos. Até o século XIX, a assistência prestada era intuitiva e desorganizada, considerando que não existia como tal, pois havia uma mescla de assistência social e religiosa.
No presente século, quando se lembra do passado tem-se uma pequena noção de sofrimento: as pessoas carregando suas patologias por meses e sendo assistidos por indivíduos sem preparação adequada. Assim como as doenças a enfermagem também já existia desde os primórdios, só que as atividades eram prestadas de forma empírica. A enfermagem começou a se organizar na metade do século XIXI, sob a liderança da notável Florence Nightingale. Nascida em Florença na Itália, sua maior realização foi o estabelecimento do conceito de preparação formal para a prática de enfermagem.
A profissão de enfermeiro teve início com sua promessa de cuidar dos doentes. A sua notável atuação foi cuidando dos soldados feridos durante a Guerra da Criméia, após esse trabalho juntamente com um grupo de mulheres, sua fama espalhou-se com rapidez. Suas crenças a cerca da enfermagem constituem o fundamento básico sobre o qual se pratica a enfermagem atualmente. Não se pode esquecer o contexto de Nightingale.
O papel da mulher na sociedade não tinha muita expressão, mesmo assim dedicava-se aos doentes com amor e humildade.
Apesar dos entraves de sua época, não se limitou, foi além e superou seus próprios limites com determinação e perseverança. Partiu em direção de seus objetivos e como qualquer mortal teve um sonho e queria torná-lo realidade.
Em 1860, fundou a primeira escola de enfermagem no hospital St. Thomas. As alunas da escola Nightingale tornaram-se as pioneiras da enfermagem moderna, sendo enviadas a diferentes lugares para executar e ensinar as habilidades. No Brasil foi o destaque para Ana Nery a primeira enfermeira voluntária de guerra. Foi e é considerada até hoje a “mãe dos brasileiros” pelo seu trabalho e dedicação. E mais tarde em sua homenagem surge no Rio de Janeiro a primeira escola de enfermagem de “Alto Padrão”.
Existiram outras mulheres que foram determinadas e brilhantes nos cuidados de enfermagem. Mas Nightingale e Ana Nery aqui por possuírem caráter desbravador adiante de seu tempo. Quando se pensa nessas mulheres e o que foram capazes de fazer, acabamos por colocá-las como referencia para uma enfermagem mais voltada para o homem. Sempre lembrando que este necessita de qualidade de vida, e de cuidadores que tenham dignidade e não tenham preconceitos.

2. PREPARO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE

Todo indivíduo passa por um processo; fatores entre si, ferramentas básicas para alcançar necessidades através de estímulos.
Sem motivação o indivíduo fica estagnado diante de inúmeras oportunidades e estas aparecem para quem está “preparado”. A seguinte frase popular fez muito sentido:

“O trem não pára e quem perder a hora, perde a vaga e fica a ver navios”.

Esta é a realidade! Para atuar junto aos profissionais da área da saúde é preciso formação profissional e estar motivado. Tendo em vista que a motivação gera determinação, q eu esta serve de “combustível” para chegar à reta final.
Uma profissão bonita, experiência com doentes na família, carência de um bom atendimento hospitalar, conseguir uma vaga no mercado de trabalho são motivos pelos quais levaram inúmeras pessoas a estarem se preparando para tornarem-se técnicos de enfermagem. Embora seus motivos sejam verdadeiros e nobres existe uma distância grande entre eles e as “motivações” das primeiras enfermeiras. O foco delas era o ser humano doente, fragilizado, necessitando de cuidados, enquanto que hoje o foco dos futuros profissionais é voltado para o “status” da profissão, um bom emprego, salário a altura.
A.A. de 25 anos, aluna de enfermagem diz:

“Nada contra querer ter um bom emprego, com um bom salário. O problema é quando se foca apenas isso. E como conseqüência, deixamos de fazer um atendimento mais humanizado. E quando isso não for possível? Como será meu comportamento com os pacientes e colegas? Precisamos separar bem as coisas. O sucesso profissional é inevitável quando se é competente no que faz!”

C.L. de 30 anos, que também compactua do mesmo ideal diz:
“Essa versão desfocada da enfermagem de Nightingale é observada na sala de aula. Uma parte da turma leva tudo com seriedade e compromisso, enquanto que a maior parte brinca muito e acaba atrapalhando o restante que está atento às aulas”.
Observa-se nessas alunas a preocupação com o futuro profissional que as aguarda. Para elas priorizar as atividades do curso é aprimorar o que já sabem e reter conhecimentos a partir do momento que as dúvidas vão sendo esclarecidas. Pois de acordo com Augusto Cury (2001) “ela nos esvazia e estimula o pensamento”.
Abusar de recursos como estes é um caminho para se fazer a diferença. Sempre tendo em vista que o sonho é muito importante para o ser humano, e melhor ainda é quando este sonha com os pés “fincados” no chão, com muita determinação e sempre superando seus próprios limites.

3. PROMOVENDO A SAÚDE x ESTRESSE

Quando o foco deixa de ser o indivíduo como ser humano, a atuação na prática diária parece distanciar-se daquilo que é pela escola de enfermagem. Faz-se necessário a importância do “saber fazer” em enfermagem:

“Ação que esta concomitantemente conjugada com competência humana, necessária para lidar com o ser humano, expressa através da comunicação, da ética, do respeito, dos seus direitos e valores”
(PROFAE, 2001).

Esses princípios devem nortear as ações do profissional sem levar em conta as frustrações que a realidade vai impondo. A profissão deixa de ser “bonita", as atividades do dia-a-dia com os clientes vão ficando ofuscadas, aparece a irritabilidade, as relações de trabalho vão ficando conflituosas talvez pela displicência ou então pela disputa.
O cliente passa a ficar num verdadeiro fogo cruzado, com um atendimento precário e muitas vezes desumano como é o caso de M.A. de 43 anos. Esta senhora levou seu filho para ser atendido num Hospital de Urgência e Emergência, pois este estava desesperado de dor. A mãe pediu para a técnica de enfermagem que tocasse na “parte” ferida da criança levemente, pois se tratava de um ferimento na genitália da mesma. Neste momento a profissional irritou-se e começou a agredir verbalmente e quase fisicamente a mãe do paciente. Por fim a vítima foi acolhida pelos colegas da tal profissional e esta acabou sendo afastada da sua função.
O estresse é um fator de desequilíbrio emocional e é causa de muitos conflitos no atendimento. Muitas vezes os profissionais levam problemas pessoais para o trabalho e este interfere no desenvolvimento de suas atividades profissionais, contradizendo o juramento que é feito de dedicar sua vida profissional a serviço da humanidade respeitando a dignidade e os deveres da pessoa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre o sonho e a realidade esta: a desilusão, a frustração e o estresse, frutos de motivações e ideais desfocados da enfermagem que vê o cliente como um ser humano carente de atenção e de cuidados.
Aqui tentei resgatar estes princípios, enfatizando a enfermagem praticada no século XIX por Florence Nightingale, com práticas humanizadas, dedicação e respeito, valorizando sua equipe de trabalho sempre visando uma melhor qualidade de vida do cliente. Isso é possível quando há empenho e acima de tudo amor ao próximo.

REFERÊNCIAS

CURY, Augusto Jorge. O Mestre dos Mestres / Augusto Cury – São Paulo: Acadêmia de Inteligência, 1999

GRAU, Carme Ferré. Curso de enfermagem básica / Carme Ferré Grau, Isabel M. Sancho Avello: tradutor: Torrieri Guimarães; ilustradores: Juan Carlos Martinez e Montserrat Nieto.- São Paulo: DCL, 2008.

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